Discurso do Santo Padre durante a I Congregação Geral da XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos
Estimadas Beatitudes Excelências Irmãos e irmãs!
A Igreja retoma hoje o diálogo começado com a convocação do Sínodo Extraordinário sobre a família — e certamente também muito antes — para avaliar e reflectir juntos sobre o texto do Instrumentum laboris, elaborado a partir da Relatio Synodi e das respostas das Conferências Episcopais e dos organismos de direito.
Como sabemos, o Sínodo é um caminhar juntos com espírito de colegialidade e de sinodalidade, adoptando corajosamente aparresia, o zelo pastoral e doutrinal, a sabedoria, a franqueza, e pondo sempre diante dos nossos olhos o bem da Igreja, das famílias e a suprema lex, a salus animorum (cf. Cân. 1752).
Gostaria de recordar que o Sínodo não é um congresso ou um «falatório», não é um parlamento ou um senado, onde nos pomos de acordo. Ao contrário, o Sínodo é uma expressão eclesial, ou seja, é a Igreja que caminha unida para ler a realidade com os olhos da fé e com o coração de Deus; é a Igreja que se questiona sobre a sua fidelidade ao depósito da fé, que para ela não representa um museu para visitar nem só para salvaguardar, mas é uma fonte viva na qual a Igreja se dessedenta para matar a sede e iluminar o depósito da vida.
O Sínodo move-se necessariamente no seio da Igreja e dentro do Povo Santo de Deus do qual nós somos parte na qualidade de pastores, ou seja, de servos.
Além disso o Sínodo é um espaço protegido no qual a Igreja experimenta a acção do Espírito Santo. No Sínodo o Espírito fala através da língua de todas as pessoas que se deixam guiar pelo Deus que surpreende sempre, pelo Deus que revela aos pequeninos aquilo que esconde aos sábios e aos entendidos, pelo Deus que criou a lei e o sábado para o homem e não o contrário, pelo Deus que deixa as noventa e nove ovelhas para ir procurar a única ovelha tresmalhada, pelo Deus que é sempre maior do que as nossas lógicas e cálculos.
Recordamos contudo que o Sínodo só poderá ser um espaço da acção do Espírito Santo se nós participantes nos revestimos decoragem apostólica, humildade evangélica e oração confiante.
A coragem apostólica que não se deixa amedrontar diante das seduções do mundo, que tendem a apagar no coração dos homens a luz da verdade substituindo-a com luzes pequenas e passageiras, nem sequer diante do empedernimento de alguns corações que — não obstante as boas intenções — afastam as pessoas de Deus. «A coragem apostólica de dar vida e não de fazer da nossa vida cristã um museu de recordações» (Homilia em Santa Marta, 28 de Abril de 2015).
A humildade evangélica que sabe esvaziar-se das próprias convenções e preconceitos para ouvir os irmãos Bispos e encher-se de Deus. Humildade que leva a não apontar o dedo contra os outros para os julgar, mas dar-lhes a mão para os ajudar a levantar-se sem nunca se sentir superior a eles.
A oração confiante é a acção do coração quando se abre a Deus, quando se silenciam os nossos humores para ouvir a suave voz de Deus que fala no silêncio. Sem ouvir Deus todas as nossas palavras serão unicamente «palavras» que não saciam nem servem. Sem nos deixarmos guiar pelo Espírito todas as nossas decisões serão apenas «decorações» que em vez de exaltar o Evangelho o encobrem e escondem.
Amados irmãos!
Como disse, o Sínodo não é um parlamento, onde para alcançar um consenso ou um acordo comum se recorre à negociação, a pactos ou a compromissos, mas o único método do Sínodo é abrir-se ao Espírito Santo, com coragem apostólica, com humildade evangélica e com oração confiante; para que seja Ele quem nos guia, ilumina e faz com que ponhamos diante dos nossos olhos não os nossos pareceres pessoais, mas a fé em Deus, a fidelidade ao magistério, o bem da Igreja e a salus animorum.
Por fim, gostaria de agradecer de coração a Sua Eminência o Cardeal Lorenzo Baldisseri, Secretário Geral do Sínodo, a Sua Excelência D. Fabio Fabene, Subsecretário; ao Relator Sua Eminência o Cardeal Peter Erdő e ao Secretário Especial, Sua Excelência D. Bruno Forte, aos Presidentes delegados, aos escrivães, aos consultores, aos tradutores e a quantos trabalharam com verdadeira fidelidade e total dedicação à Igreja: muito obrigado!
Agradeço de igual modo a todos vós, queridos Padres Sinodais, Delegados Fraternos, Auditores, Auditoras e Assessores pela vossa participação activa e frutuosa.
Desejo dirigir um agradecimento especial aos jornalistas aqui presentes neste momento e aos que nos seguem de longe. Obrigado pela vossa participação apaixonada e pela vossa louvável atenção.
Iniciamos o nosso caminho, invocando a ajuda do Espírito Santo e a intercessão de Sagrada Família: Jesus, Maria e são José! Obrigado!