«Alegres na esperança»: celebrações do Dia Mundial da Juventude
Celebra-se hoje, na Solenidade de Cristo Rei, o 38.º Dia Mundial da Juventude. «Alegres na esperança» (Rm 12, 12) foi o tema escolhido pelo Papa Francisco para esta data.
«Alegres na esperança» (Rm 12, 12)
Queridos jovens!
No passado mês de agosto, encontrei centenas de milhares de vossos coetâneos que, vindos de todo o mundo, se reuniram em Lisboa para a Jornada Mundial da Juventude. Nos dias da pandemia alimentámos, no meio de muitas incertezas, a esperança de que esta grande celebração do encontro com Cristo e com outros jovens se pudesse realizar. Esta esperança concretizou-se e, para mim e muitos de quantos lá estiveram presentes, superou todas as expetativas! Como foi lindo o nosso encontro em Lisboa! Uma verdadeira e real experiência de transfiguração, uma explosão de luz e alegria!
No final da Missa conclusiva no «Campo da Graça», indiquei a próxima etapa da nossa peregrinação intercontinental: Seul, na Coreia, em 2027. Mas antes disso marquei encontro convosco em Roma, para o Jubileu dos jovens em 2025, onde também vós sereis «peregrinos da esperança».
De facto vós, jovens, sois a esperança jubilosa duma Igreja e duma humanidade sempre a caminho. Quero tomar-vos pela mão e, junto convosco, percorrer a senda da esperança. Quero falar convosco das nossas alegrias e esperanças, mas também das tristezas e angústias dos nossos corações e da humanidade que sofre (cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. Gaudium et spes, 1). Nestes dois anos de preparação para o Jubileu, meditaremos, primeiro, sobre a expressão paulina «Alegres na esperança» (Rm 12, 12) e, depois, aprofundaremos a frase do profeta Isaías: «Aqueles que esperam no Senhor, caminham sem se cansar» (cf. Is 40, 31).
Donde vem esta alegria?
«Alegres na esperança» (Rm 12, 12) é uma exortação de São Paulo à comunidade de Roma, que se encontra num período de intensa perseguição. E na realidade a «alegria na esperança», pregada pelo Apóstolo, brota do mistério pascal de Cristo, da força da sua ressurreição. Não é fruto do esforço humano, do engenho ou da arte. É a alegria que deriva do encontro com Cristo. A alegria cristã vem do próprio Deus, de nos sabermos amados por Ele.
Refletindo sobre a experiência vivida na Jornada Mundial da Juventude de Madrid, em 2011, Bento XVI perguntava-se: a alegria «donde brota? Como se explica? Seguramente são muitos os fatores que interagem; mas, a meu ver, o fator decisivo é (…) a certeza que deriva da fé: eu sou desejado; tenho uma tarefa; sou aceite; sou amado». E especificou: «No fim de contas, precisamos de um acolhimento incondicional; somente se Deus me acolher e eu estiver seguro disso mesmo é que sei definitivamente: é bom que eu exista; (…) é bom existir como pessoa humana, mesmo em tempos difíceis. A fé faz-nos felizes a partir de dentro» (Discurso à Cúria Romana, 22/XII/2011).
Onde está a minha esperança?
A juventude é um tempo cheio de esperanças e sonhos, alimentados pelas realidades belas que enriquecem a nossa vida: o esplendor da criação, as relações com os nossos entes queridos e com os amigos, as experiências artísticas e culturais, os conhecimentos científicos e técnicos, as iniciativas que promovem a paz, a justiça e a fraternidade, e assim por diante. Contudo vivemos num tempo em que para muitos, mesmo jovens, a esperança parece ser a grande ausente. Infelizmente muitos dos vossos coetâneos, que vivem experiências de guerra, violência, bulling e várias formas de mal-estar, veem-se afligidos pelo desespero, o medo e a depressão. Sentem-se como que encerrados numa prisão escura, incapazes de ver os raios do sol. Demonstra-o dramaticamente a elevada taxa de suicídio entre os jovens de vários países. Em semelhante contexto, como se pode experimentar a alegria e a esperança, de que fala São Paulo? Antes, pelo contrário, há o risco de se impor o desespero, a convicção de ser inútil fazer o bem, porque ninguém o apreciará nem reconhecerá, como lemos no Livro de Job: «Onde está a minha esperança? A minha esperança, quem a viu?» (Job 17, 15).
À vista dos dramas da humanidade, sobretudo do sofrimento dos inocentes, também nós – como rezamos em alguns Salmos – perguntamos ao Senhor: «Porquê?» Pois bem! Uma parte da resposta de Deus, podemos sê-la nós. Criados por Ele à sua imagem e semelhança, podemos ser expressão do seu amor que faz nascer a alegria e a esperança, mesmo onde parece impossível. Vem-me à mente o protagonista do filme «A vida é bela»: um pai jovem que consegue, com delicadeza e imaginação, transformar a dura realidade numa espécie de aventura e de jogo e, assim, dá ao filho «olhos de esperança», protegendo-o dos horrores do campo de concentração, salvaguardando a sua inocência e impedindo que a maldade humana lhe roube o futuro. Mas não se trata apenas de histórias inventadas! É o que vemos na vida de muitos Santos, que foram testemunhas de esperança mesmo no meio da maldade humana mais cruel. Pensemos em São Maximiliano Maria Kolbe, em Santa Josefina Bakhita ou nos Beatos esposos Józef e Wiktoria Ulma com os seus sete filhos.
A possibilidade de acender uma esperança no coração dos homens, a partir do testemunho cristão, foi magistralmente evidenciada por São Paulo VI, quando nos recordou que «um cristão ou punhado de cristãos, no seio da comunidade humana em que vivem, (…) irradiam, dum modo absolutamente simples e espontâneo, a sua fé em valores que estão para além dos valores correntes, e a sua esperança em qualquer coisa que não se vê nem se ousaria sequer imaginar» (Exort. ap. Evangelii nuntiandi, 21).
A «pequena» esperança
O poeta francês Charles Péguy, no início do poema sobre a esperança, fala das três virtudes teologais – fé, esperança e caridade – como se fossem três irmãs que caminham juntas:
«A pequena esperança avança no meio de suas duas irmãs grandes
E não se nota sequer. (…).
Ela, a pequenita, é que arrasta tudo.
Porque a Fé não vê senão o que é
E ela vê aquilo que será.
A Caridade não ama senão aquilo que é
E ela, sim ela, ama aquilo que será. (…).
É ela que faz caminhar as outras duas
Que puxa por elas.
E que nos faz caminhar a todos»
(O pórtico do mistério da segunda virtude, Milão 1978, 17-19).
Também eu estou convencido deste caráter humilde, «menor», e todavia fundamental da esperança. Tentai imaginar: Como poderíamos viver sem esperança? Como seriam os nossos dias? A esperança é o sal da quotidianidade.
Esperança, luz que brilha na noite
Na tradição cristã do Tríduo Pascal, o Sábado Santo é o dia da esperança. Situado entre a Sexta-Feira Santa e o Domingo de Páscoa, é como um meio-termo entre o desespero dos discípulos e a sua alegria pascal. É o ponto onde nasce a esperança. Neste dia, a Igreja comemora em silêncio a descida de Cristo à mansão dos mortos. Isto, podemos vê-lo pintado em muitos ícones. Mostram-nos Cristo refulgente de luz que desce às trevas mais profundas e atravessa-as. É assim: Deus não se limita a olhar com compaixão para as nossas zonas de morte ou a chamar-nos de longe, mas entra nas nossas experiências da mansão dos mortos como luz que brilha nas trevas e as vence (cf. Jo 1, 5). Bem o expressa um poema na língua sul-africana xhosa: «Mesmo que acabem as esperanças, com este poema acordo a esperança. A minha esperança acorda, porque espero no Senhor. Espero que havemos de nos unir! Permanecei fortes na esperança, porque o bom êxito está próximo».
Se pensarmos bem, esta foi a esperança da Virgem Maria, que permaneceu forte aos pés da cruz de Jesus, certa de que estava próximo o «bom êxito». Maria é a mulher da esperança, a Mãe da esperança. No Calvário, firme «numa esperança para além do que se podia esperar» (Rm 4, 18), não deixou apagar no seu coração a certeza da Ressurreição anunciada pelo seu Filho. É Ela que preenche o silêncio do Sábado Santo com uma amorosa expetativa cheia de esperança, incutindo nos discípulos a certeza de que Jesus venceria a morte e que o mal não seria a última palavra.
A esperança cristã não é otimismo fácil nem uma panaceia para simplórios: é a certeza, radicada no amor e na fé, de que Deus nunca nos deixa sozinhos e mantém a sua promessa: «Ainda que atravesse vales tenebrosos, de nenhum mal terei medo porque Tu estás comigo» (Sal 23, 4). A esperança cristã não é negação da dor nem da morte, mas celebração do amor de Cristo Ressuscitado que está sempre connosco, mesmo quando parece distante. «O próprio Cristo é, para nós, a grande luz de esperança e guia na nossa noite, porque Ele é “a brilhante estrela da manhã” (Ap 22, 16)» (Francisco, Exort. ap. Christus vivit, 33).
Alimentar a esperança
Quando a centelha da esperança se acende em nós, existe às vezes o risco de ser sufocada pelas preocupações, os medos e as tarefas da vida diária. Mas uma centelha precisa de ar para continuar a brilhar e reavivar-se num grande fogo de esperança. E é a suave brisa do Espírito Santo que alimenta a esperança. Podemos colaborar de diversos modos para a alimentar.
A esperança é alimentada pela oração. Rezando, salvaguarda-se e renova-se a esperança. Rezando, mantemos acesa a centelha da esperança. «A oração é a primeira força da esperança. Rezas e a esperança cresce, avança» (Francisco, Catequese, 20/V/2020). Rezar é como subir a grande altitude: quando estamos na terra, muitas vezes não conseguimos ver o sol, porque o céu está coberto de nuvens. Mas se subirmos acima das nuvens, envolvem-nos a luz e o calor do sol; e, nesta experiência, encontramos a certeza de que o sol está sempre presente, mesmo quando tudo se apresenta cinzento.
Queridos jovens, quando o nevoeiro espesso do medo, da dúvida e da opressão vos envolve e já não conseguis ver o sol, embocai o caminho da oração. Pois, «quando já ninguém me escuta, Deus ainda me ouve» (Bento XVI, Carta enc. Spe salvi, 32). Reservemos diariamente o tempo para descansar em Deus, face às ansiedades que nos assaltam: «Só em Deus descansa a minha alma; d’Ele vem a minha esperança» (Sal 62, 6).
A esperança é alimentada pelas nossas opções quotidianas. O convite a serem alegres na esperança, que São Paulo dirige aos cristãos de Roma (cf. Rm 12, 12), exige escolhas muito concretas na vida de cada dia. Por isso, exorto-vos a escolher um estilo de vida baseado na esperança. Dou um exemplo: nas redes sociais, parece mais fácil compartilhar notícias más do que notícias de esperança. Assim deixo-vos uma proposta concreta: tentai compartilhar cada dia uma palavra de esperança. Tornai-vos semeadores de esperança na vida dos vossos amigos e de quantos vos rodeiam. Com efeito, «a esperança é humilde e é uma virtude que se trabalha – por assim dizer – todos os dias (…). Todos os dias é preciso lembrar-nos que temos o penhor, que é o Espírito e que trabalha em nós através de pequenas coisas» (Francisco, Meditação matutina, 29/X/2019).
Acender a lanterna da esperança
Às vezes, à noite, saís com os vossos amigos e, se estiver escuro, tomais o smartphone e acendeis a lanterna para iluminar. Nos grandes concertos, milhares movem aquelas luzinhas modernas ao ritmo da música, criando um belo cenário. De noite, a luz faz-nos ver as coisas dum modo novo e, mesmo na escuridão, emerge uma dimensão de beleza. O mesmo se passa com a luz da esperança, que é Cristo. Por Ele, pela sua ressurreição, é iluminada a nossa vida. Com Ele, vemos tudo sob uma nova luz.
Diz-se que, quando as pessoas se dirigiam a São João Paulo II para lhe falar de um problema, a sua primeira pergunta era: «Como se apresenta isso à luz da fé?» Também um olhar iluminado pela esperança faz com que as coisas apareçam sob uma luz diferente. Por isso, convido-vos a assumir este olhar na vossa vida diária. Animado pela esperança divina, o cristão encontra-se repleto duma alegria diversa, que vem de dentro. Os desafios e as dificuldades existem e sempre existirão, mas se estivermos dotados duma esperança «cheia de fé», enfrentá-los-emos sabendo que não têm a última palavra e nós próprios tornamo-nos uma pequena lanterna de esperança para os outros.
E podeis sê-lo, também cada um de vós, na medida em que a própria fé se fizer concreta, aderente à realidade e às histórias dos irmãos e irmãs. Pensemos nos discípulos de Jesus, que um dia, num alto monte, O viram resplandecer de luz gloriosa. Se tivessem ficado lá em cima, teria sido um momento muito belo para eles, mas os outros teriam sido excluídos. Era necessário que descessem. Não devemos fugir do mundo, mas amar o nosso tempo, no qual Deus nos colocou não sem motivo. Só se pode ser feliz partilhando a graça recebida com os irmãos e as irmãs que o Senhor nos dá dia após dia.
Queridos jovens, não tenhais medo de partilhar com todos a esperança e a alegria de Cristo Ressuscitado! A centelha que se acendeu em vós, conservai-a, mas ao mesmo tempo comunicai-a: dar-vos-eis conta de que ela crescerá! A esperança cristã, não a podemos guardar para nós, como um belo sentimento, visto que se destina a todos. Aproximai-vos em particular dos vossos amigos que talvez aparentemente sorriam, mas por dentro choram, carentes de esperança. Não vos deixeis contagiar pela indiferença e pelo individualismo: permanecei abertos como canais por onde a esperança de Jesus possa fluir e difundir-se nos ambientes onde viveis.
«Cristo vive: é Ele a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo!» (Exort. ap. Christus vivit, 1). Assim vos escrevi, há quase cinco anos, depois do Sínodo dos Jovens. Convido-vos a todos, especialmente àqueles que estão envolvidos na pastoral juvenil, a voltarem a pegar no Documento Final de 2018 e na Exortação apostólica Christus vivit. Os tempos estão maduros para fazermos, juntos, o ponto da situação e trabalharmos com esperança para a plena implementação daquele Sínodo inesquecível.
Confiemos toda a nossa vida a Maria, Mãe da Esperança. Ela ensina-nos a trazer dentro de nós Jesus, nossa alegria e esperança, e a dá-Lo aos outros. Boa caminhada, queridos jovens! Abençoo-vos e acompanho-vos com a oração. E vós rezai também por mim!
Roma, São João de Latrão, na Festa da Dedicação da Basílica Lateranense, 9 de novembro de 2023.
FRANCISCO