Catequese do Papa Francisco sobre sua viagem aos Emirados Árabes

Catequese do Papa Francisco sobre sua viagem aos Emirados Árabes

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

 

Nos dias passados, fiz uma breve viagem apostólica aos Emirados Árabes Unidos. Uma viagem breve, mas muito importante que, seguindo-se ao encontro de 2017 em Al-Azhar, no Egito, escreveu uma nova página na história do diálogo entre Cristianismo e Islamismo e no compromisso de promover a paz no mundo na base da fraternidade humana.

Pela primeira vez, um Papa foi à península arábica. E a providência quis que tenha sido um Papa de nome Francisco, 800 anos depois da visita de São Francisco de Assis ao sultão al-Malik al-Kamil. Pensei muitas vezes em São Francisco durante esta viagem: ajudava-me a ter no coração o Evangelho, o amor de Jesus Cristo, enquanto eu vivia os vários momentos da visita; no meu coração estava o Evangelho de Cristo, a oração ao Pai por todos os seus filhos, especialmente pelos mais pobres, pelas vítimas da injustiça, da guerra, da miséria…; a oração para que o diálogo entre Cristianismo e Islamismo seja um fator decisivo para a paz no mundo de hoje

Agradeço de coração ao príncipe herdeiro, o presidente, o vice-presidente e a todas as autoridades dos Emirados Árabes Unidos, que me acolheram com grande cortesia. Aquele país cresceu muito nas últimas décadas: tornou-se um cruzamento entre Oriente e Ocidente, um “oásis” multiétnico e multirreligioso e, portanto, um lugar adapto para promover a cultura do encontro. Vivo reconhecimento exprimo ao bispo Paul Hinder, vigário apostólico da Arábia do Sul, que preparou e organizou o evento para a comunidade católica, e o meu “obrigado” se estende com afeto aos sacerdotes, aos religiosos e aos leigos que animam a presença cristã naquela terra.

Tive a oportunidade de saudar o primeiro sacerdote – de noventa anos – que foi lá para fundar tantas comunidades. Está em uma cadeira de todas, cego, mas o sorriso não cai dos lábios, o sorriso de ter servido ao Senhor e de ter feito tanto bem. Saudei também outro sacerdote de noventa anos – mas este caminhava e continua a trabalhar. Bravo! – e tantos sacerdotes que estão ali a serviço das comunidades cristãs de rito latino, de rito siro-malabarese, siro-malankarese, de rito maronita que veem do Líbano, da Índia, das Filipinas e de outros países.

Além dos discursos, em Abu Dhabi foi dado um passo a mais: o Grande Imã de Al-Azhar e eu assinados o Documento sobre Fraternidade Humana, no qual, juntos, afirmamos a comum vocação de todos os homens e mulheres a serem irmãos enquanto filhos e filhas de Deus, condenamos toda forma de violência, especialmente aquela revestida de motivações religiosas, e nos empenhamos em difundir no mundo os valores autênticos e a paz. Este documento será estudado nas escolas e nas universidades de vários países. Mas também eu recomendo que vocês leiam, conheçam, porque dá tanto impulso para seguir adiante no diálogo sobre fraternidade humana.

Em uma época como a nossa, em que há uma forte tentação de ver um choque entre as civilizações cristãs e islâmica, e também de considerar as religiões como fontes de conflito, quisemos dar um sinal, claro e decisivo, de que, em vez disso, é possível encontrar-se, é possível respeitar-se e dialogar, e que, apesar da diversidade de culturas e tradições, o mundo cristão e o mundo islâmico apreciam e protegem valores comuns: a vida, a família, o sentido religioso, a honra para os idosos, a educação dos jovens e outros ainda.

Nos Emirados Árabes Unidos vive cerca de pouco mais de um milhão de cristãos: trabalhadores originários de vários países da Ásia. Ontem pela manhã encontrei uma representação da comunidade católica na Catedral de São José em Abu Dhabi – um templo muito simples – e depois, depois deste encontro, celebrei para todos. – eram muitíssimos! – Dizem que entre os que estavam dentro do estádio, que tem capacidade para 40 mil, e quantos estavam diante dos telões fora do estádio, chegava a 150 mil! Celebrei a Eucaristia no estádio da cidade, anunciando o Evangelho das Bem Aventuranças. Na Missa, concelebrada com os Patriarcas, os arcebispos maiores e os bispos presentes, rezamos de modo particular pela paz paz e a justiça, com especial intenção pelo Oriente Médio e pelo Iêmen.

Queridos irmãos e irmãs, esta viagem pertence às ‘surpresas’ de Deus. Louvemos, portanto, a Ele e à sua providência, e rezemos para que as sementes lançadas deem frutos segundo a sua vontade.